Camaradas.
Passaram 46 anos, um mês e quinze dias, desde a publicação do Decreto-Lei 282/76.
Quarenta e seis anos de uma legislação cada vez mais desajustada, injusta e desenquadrada da nossa realidade como profissionais do Quadro de Pessoal Militarizado da Marinha.
Quarenta e seis anos de uma legislação que não vai ao encontro das especificidades, e das aspirações do pessoal faroleiro.
Passam-se as décadas e a tutela vai empurrando os nossos assuntos com a barriga, também com muita culpa nossa, diga-se de passagem.
Por muito e bom trabalho que o movimento associativo representativo dos militarizados tenha feito, vimos outros grupos de militarizados (nomeadamente a Polícia Marítima), terem os seus estatutos e, hoje em dia a lutar pela sua atualização… e nós? Pois nós fomos ficando, acomodámo-nos à situação e fomos abandonando a reivindicação dos nossos direitos, mas também o justo enquadramento dos nossos deveres.
Mas… os faroleiros disseram basta e, em maio de 2018 decidiram tomar em mãos o seu destino.
Começámos tarde, muito tarde…, mas não tarde demais! E vemos hoje, em junho de 2022 que foi justo e importante o trabalho realizado pelos primeiros corpos sociais da ASPFA, os nossos antecessores, sob a eficiente coordenação do nosso camarada Jorge Estevão (que aqui saúdo).
Esta Direção Nacional que hoje toma posse e da qual sou o responsável pela sua coordenação, não vai reinventar a pólvora, é uma direção de continuidade, continuando o trabalho iniciado, usando a mesma estratégia, seguindo os mesmos planos, mas flexível para se adequar a qualquer desafio imposto e também á vontade dos seus associados.
Somos respeitadores e cordiais para quem nos respeita. Mas somos inflexíveis e irredutíveis na defesa dos interesses dos faroleiros, e também, no que toca às inúmeras questões em comum do QPMM, do restante pessoal do Quadro.
Sabemos ouvir, mas queremos também que nos oiçam. Esperamos que nos administrem bem, mas temos também o direito de participar na definição das regras dessa administração.
Os tempos do “vocês estão cá para trabalhar, não é para pensar”, isso, caros camaradas, desfez-se em pó, há muito tempo, como as múmias do Egipto!
Estamos cá para que se valorize o trabalho dos faroleiros e para tratar dos assuntos que a nós todos dizem respeito, faroleiros associados e os não associados da ASPFA. Aos sócios que confiam na sua Associação, digo-vos que tudo vamos fazer para não vos defraudar. Aos faroleiros não associados, estendo a minha mão e peço que se juntem a nós para nos tornarmos de facto uma frente unida pronta a lutar pelos nossos direitos como faroleiros, pessoal do Grupo 6 do Quadro de Pessoal Militarizado da Marinha.
Camaradas, quando nada temos a perder e tudo a ganhar, obtém-se uma tal clareza de mente que só mesmo por falta de vontade nossa é que as coisas não acontecem. O centro dos nossos problemas é a falta de um Estatuto Socioprofissional, foi esse o maior fator para a criação da nossa Associação e é para esse magno assunto que vamos apontar quase todas as nossas espingardas.
Somos poucos, temos poucos recursos e temos assim, de os continuar a usar sabiamente, tal como foi feito pela Direção Nacional que cessou hoje funções.
Mas temos pessoas, e temos recursos, e temos experiência, e temos, acima de tudo vontade e sabedoria para fazer a nossa parte para levar a água ao nosso moinho.
Vamos abrir novas frentes de luta. Luta, essa palavra tão forte, vai ter mesmo expressão na atividade futura da ASPFA. O problema de base é a adequação da legislação à nossa existência e não o contrário, 46 anos de legislação coxa, vinda de um passado mal resolvido, dá-nos esse direito.
Acreditamos que isto não se resolve a dialogar à mesa, mas sim a argumentar na barra dos tribunais, e estamos a ultimar os esforços para perceber o melhor caminho para começar, de vez, a resolver o nosso problema. Nosso e de todos os militarizados do QPMM.
Assim pedimos-vos camaradas associados. Mais um pouco de paciência e outro de fé. Esta Direção vai dar o seu melhor, eu vou dar o meu melhor.
Disse Henry Ford que “juntar pessoas é um começo, ficarem juntas é um progresso e trabalharem juntas é um êxito”. Portanto, permaneçamos unidos e confiantes no processo iniciado em 2018. Temos um programa claro, simples e exequível e temos todas as condições para ter êxito nos nossos objetivos.
Termino agradecendo aos camaradas que decidiram continuar nesta nova missão, aos que vêm da anterior Direção e aos novos que chegam, a vós, o meu mais sincero obrigado.
Agradeço à anterior Direção Nacional pelo seu trabalho, vamos seguir o caminho aberto pelos vossos passos.
Agradeço também (e finalmente) aos associados da ASPFA, em especial aos camaradas que estiveram connosco online e presencialmente.
Camaradas e amigos, estas palavras já vão longas, deixo-vos com mais uma frase empacotada, desta vez dum grande escritor, prémio Nobel português que sabiamente afirmou: “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.
Obrigado.
Viva o associativismo profissional.
Viva a ASFA.
Nuno Cardoso
Presidente da Direção Nacional da ASPFA